Emprego de volta só depois da vacina e da eleição

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Por Edson Dias Bicalho

Somos otimistas porque pessimismo não constrói nada. Mas não me lembro, nos meus mais de 30 anos de atuação sindical, de um momento tão ruim para o trabalhador e a trabalhadora. Chegamos a este 1º de Maio, Dia do Trabalho, com 14,2% de desemprego no Brasil. Isso significa que 14,3 milhões de pessoas estão na fila por um trabalho. É um número recorde. De 2020 para 2021, como efeito da pandemia, o total de desempregados cresceu 20%. Recentemente, uma pesquisa indicou que 5 em cada 10 formados entre 2019 e 2020 estão sem trabalhar.

As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o Brasil deverá registrar, neste ano de 2021, a 14ª maior taxa de desemprego do mundo. Em 2020, ficamos na 22ª colocação neste ranking. Para ter ideia de quanto pioramos, em 2016, estávamos na 27ª posição. Estamos caindo ladeira abaixo. A recuperação, infelizmente, é lenta. Vai demorar para termos de novo nível de empregabilidade de antes da pandemia, que já estava ruim. Isso porque o crescimento do Brasil depende de dois fatores. O primeiro é vacina contra o coronavírus – e não teremos vacina para toda a população neste ano. Segundo é uma política econômica, que também não temos. Aliás, estamos sem governo. Os governantes ou estão perdidos na condução da pandemia ou estão pensando apenas em seus interesses nas eleições do ano que vem, 2022.

Estamos à deriva! Enquanto isso, países que já vacinaram parcela significativa de suas populações ou que têm condições reais de ainda vacinar até julho, já estão projetando bons índices de crescimento econômico para o segundo semestre deste ano. Mas nós, no Brasil, certamente vamos amargar mais dois anos de altas taxas de desemprego. Mesmo que consigamos atingir a cobertura vacinal desejada no primeiro semestre de 2022, o País já vai estar naquele clima de pré-eleição que conhecemos bem, em que nada anda. É mais realista esperar que apenas a partir de 2023 vamos ter condições de retomar o crescimento.

O setor químico, o qual integro, tem a sorte de não estar entre os mais afetados pela crise econômica da pandemia. Isso porque produz itens de alta demanda neste momento, como plásticos e remédios, e também etanol e açúcar que, por uma conjuntura macroeconômica, são produtos que estão em alta. Mesmo assim, como a crise está se prolongando muito, começamos a receber notícias de demissões em escala em várias regiões. Seguimos lutando para a manutenção de emprego e renda. E temos conseguido não perder nada nesta pandemia. Fechamos acordos de todas as negociações salariais de 2020 – dos setores farmacêutico, etanol e químico – com reajuste da inflação do período e manutenção dos direitos adquiridos. Neste ano, já fechamos o acordo dos farmacêuticos da mesma forma.

Mas sabemos que à medida que a crise se prolonga, aumenta o risco da demissão também chegar ao nosso setor. Por isso, seguimos na luta por vacina para todos e logo. E por auxílio emergencial para os desempregados até o final da pandemia. Mesmo que tarde, ainda está em tempo do governo federal lançar mão da diplomacia em busca de mais vacinas não somente com os fabricantes, mas também com países que têm doses de sobra e organismos internacionais. Que se faça agora em 2021 o que deveria ter feito em 2020! Com vacina, a retomada da economia virá e a empregabilidade, mesmo que devagar, voltará aos níveis de antes da pandemia. Que este Dia do Trabalho seja a contagem regressiva para tempos com mais trabalho – trabalho e renda dignos!

Edson Dias Bicalho,
presidente do Sindicato dos Químicos de Bauru e Região e
secretário-geral da FEQUIMFAR

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