Vice fez críticas à taxa de juros do Banco Central em suas conversas políticas
Em uma semana como presidente em exercício, Geraldo Alckmin desviou de piadas sobre o uso da “caneta cheia”, expressão que costuma usar, e tocou todas as agendas longe da cadeira e da mesa do chefe. Com discrição, pediu apoio às pautas do governo no Congresso e despachou no Palácio do Planalto. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva cumpria agenda na China, contudo, o maior foco de sua curta gestão foi reforçar o coro contra a taxa de juros do Banco Central.
O GLOBO conversou com 12 pessoas que tiveram encontros com Alckmin durante a semana. A políticos, empresários, presidentes de entidades e economistas, ele fez um apelo para que endossem as críticas do governo à gestão de Roberto Campos Neto no BC.
Após ouvir, tomar nota das demandas e contar histórias de Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal, o presidente em exercício também não encerrava o encontro sem antes pedir o apoio a outros dois desafios: a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária.
Alckmin tem repetido que a taxa de juros de 13,75% trava a economia do país, a captação de investimentos e o crédito. Com a queda da inflação do país em março, verificada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), afirmou que há ambiente mais favorável para o BC recuar.
Para Lula, a manutenção da Selic neste patamar poderá afetar a performance da economia e o desempenho do próprio governo. Na terça-feira, o presidente da Federação dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo, Sérgio Leite, esteve com Alckmin e tratou do assunto.
— O governo abandonou um pouco aquele debate de questionar autonomia do BC, então se faz um apelo social, do setor de trabalhadores, empresários, que precisa reduzir juros. E ele (Alckmin) tem feito esse apelo — afirma Sérgio Leite.
Outros relatos trazem a mesma preocupação.
— Alckmin fez uma exposição mostrando que, se a gente quiser crescer em geração de emprego e distribuição de renda, nós vamos precisar ajudar no movimento do governo para baixar os juros — afirma o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA).
O vice repetiu o mantra também com o ex-secretário da Fazenda de São Paulo Felipe Salto e economistas do mercado financeiro, quando argumentou que os juros neste patamar prejudicam o setor produtivo.
Junto com uma comitiva do Pará, o deputado Airton Faleiro entrou no gabinete presidencial liderando um grupo de parlamentares e brincou com o anfitrião:
— Chegamos para uma agenda “três em um”: com ministro (do Desenvolvimento), vice-presidente e presidente em exercício.
Alckmin, no entanto, mantém a postura comedida, inclusive nas piadas sobre o posto que ocupa desde o dia 11 — o retorno de Lula está previsto para hoje.
Ao ouvir de outro aliado que estava com a caneta com a “tinta cheia”, Alckmin respondeu, sorrindo, “que é uma tinta que apaga”, em referência à posição temporária.
O presidente em exercício despachou do gabinete presidencial, mas não sentou na cadeira de Lula nem usou a mesa do chefe. Conduziu as conversas dos sofás do gabinete. As reuniões maiores fez em uma mesa de uma sala anexa. Não saiu do gabinete para almoçar e cumpriu expediente de 16 horas por dia.
Em um caderno de espiral, Alckmin anotou todas as demandas, prometeu encaminhamentos junto à equipe e demonstrou otimismo. Defendeu os primeiros cem dias do governo, mas afirmou que agora é preciso dar um segundo passo, cuidar da economia e pôr na rua medidas que melhorem a vida das pessoas. A defesa da reforma tributária consta em todos seus argumentos, segundos relatos.
Fonte: O Globo (Por Jeniffer Gularte — Brasília) de 15/04/2023