Líder sindical e deputado federal, o que mais faço é dialogar. Buscar entendimento. Ajustar. Já radicalizei em greves e trombei com a polícia, mas nunca sem antes buscar de forma pacífica resultados positivos para quem trabalha e produz. Equivale a dizer, para toda a sociedade.
Nos últimos 20 anos, dialoguei frente a frente com todos os mandatários brasileiros. Foi assim com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Repetiu-se com o presidente Lula. E o mesmo se dá agora com o presidente Michel Temer.
A exceção foi a presidente Dilma Rousseff. No limiar de seu primeiro mandato, ela refutou nossa interlocução e excluiu o representativo grupo social ao qual pertenço. De exclusão em exclusão, todos sabem, Dilma caiu.
Neste que é o mais grave momento político e econômico desde a redemocratização, o Brasil não pode correr o risco de repetir aquele modelo excludente. Infelizmente, porém, é para onde estamos sendo empurrados. No dia a dia, somos uns contra os outros, classe versus classe, corporações frente a corporações, cada qual no seu quadrado, com intersecções cada vez mais difíceis de se realizarem. O Brasil se desintegra.
É imprescindível, agora e já, retomar o diálogo de todos com todos. No atual estado de coisas, o preço é a falta de governabilidade. Pode mesmo alguém encaminhar o país para a normalidade da eleição de 2018 sem a retomada do crescimento, o combate ao desemprego que atinge 14 milhões de pessoas e a discussão ampla das reformas? Duvido. Só o diálogo construtivo pode nos tirar desse despenhadeiro.
O Brasil precisa se modernizar. Na área econômica, necessitamos de ajustes na Previdência e, também, nas relações trabalhistas. Mas reformas que entregam os brasileiros à sanha do grande capital e das indústrias de saúde e de aposentadoria privadas não servem.
Reformas sim, mas negociadas também com a sociedade real e verdadeira. É possível torná-las, dentro das propostas oferecidas pelo governo ao Congresso, aceitáveis para o povo. As intransigências, para isso, precisam acabar. Cabe ao governo essa iniciativa.
Contra o molde atual das reformas, os trabalhadores temos realizado a maior série de protestos e greves desde a década de 1980. A Marcha à Brasília, em 24 de maio, teve antes dela a greve nacional em 28 de abril, precedida pelas intensas manifestações de 15 de março.
Esse movimento vai crescer se não houver interlocução efetiva. O Brasil ficará ingovernável, seja quem for o titular do Palácio do Planalto. Lamente-se: a retomada econômica estará inviabilizada.
A Força Sindical, fundada em 1991, realiza a partir desta segunda (12), na Praia Grande (SP), o nosso oitavo congresso. Com 3,5 mil delegados de 2,5 mil sindicatos, representando as mais diferentes categorias profissionais, será mais um grande momento de luta por um Brasil melhor e mais justo.
Sobre a pedra angular da pluralidade, a Força inclui quadros ligados a praticamente todos os partidos políticos. É um exemplo vivo de que o diálogo bem intencionado supera divergências pelo objetivo comum. Sabemos, portanto, que o Brasil precisa voltar a dialogar com o Brasil para se reencontrar. É possível, é tempo, é hora de todos contribuírem para tanto.
PAULO PEREIRA DA SILVA, o Paulinho da Força, é presidente da Força Sindical, do partido Solidariedade e deputado federal (SP)
Fonte: Folha de S. Paulo (12/06/2017)
Foto: Tiago Santana.