CLIPPING – Trabalho pós-Covid: home office, delivery e EaD vieram para ficar

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Neste 1 de maio, especialistas ouvidos pelo JC apontam como deve ficar o modelo depois que a pandemia passar

O Dicionário Houaiss dedica à palavra “trabalho” 21 significados, muito provavelmente, porque o termo passou por várias transformações ao longo da história da humanidade. E uma nova metamorfose vem por aí. Após a pandemia do novo coronavírus, o cenário deve ter mudanças significativas. Antes dela, o Brasil emplacou uma Reforma Trabalhista que já causou impacto nas relações entre os empregadores e empregados. A partir de agora, haverá outras modificações, afinal, o home office, o delivery e o Ensino a Distância (EaD) vieram para ficar, conforme revelam especialistas ouvidos pelo Jornal da Cidade em virtude do Dia do Trabalho, celebrado nesta sexta-feira (1).

Esse “tripé”, que vem se destacando muito nos últimos dias, já era implementado aos poucos no País. Contudo, a pandemia acelerou esse processo de forma contundente.

Nos últimos três anos, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Bauru e Região, Edson Dias Bicalho, participou de vários debates junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o futuro do mesmo.

E, de acordo com ele, que também é secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), cerca de 80% dos prestadores de serviço da área administrativa não ficarão nos seus respectivos escritórios, mas em casa.

Edson integra, ainda, o Comitê Executivo da IndustriALL, que representa cerca de 50 milhões de trabalhadores dos setores químico, têxtil, de mineração, de energia e metalúrgico em 140 países.

O especialista acredita, porém, que tal alteração para o home office ocorrerá aos poucos. “Depois que tudo passar, será necessário fazer alguns ajustes em forma de legislação ou negociação coletiva”, justifica.

Segundo Edson, o comércio também sofrerá uma grande mudança. “No decorrer da pandemia, as lojas começaram a aderir ao delivery e funcionou. O sistema trouxe comodidade a elas, que tiveram os custos reduzidos com a dispensa dos atendentes, e aos próprios consumidores”, acrescenta.

Para ele, o EaD se tornará outra realidade em todo o território brasileiro. “Só que precisamos encontrar uma forma de reconhecer os certificados dos cursos online, que ainda não têm o mesmo peso do que os presenciais”, contrapõe.

O presidente do sindicato defende uma transição justa para os novos modelos de trabalho. “Na OIT, nós já discutimos a necessidade de evitar que as pessoas não sofram tanto. Porém, não houve consenso. As empresas atribuem a responsabilidade ao poder público e este, por sua vez, espera uma atitude por parte da iniciativa privada”, observa.

REFLEXÃO

Economista e presidente da Associação Comercial e Industrial de Bauru (Acib), Reinaldo Cafeo afirma que as entidades e os próprios sindicatos deverão repensar as leis trabalhistas.

Ele diz que a relação entre as partes ficará mais estreita. “Diante disso, precisamos desenvolver uma Reforma Trabalhista que incorpore a confiança dos empregadores em relação aos empregados e vice-versa. Assim, eles poderão discutir, sem a tutela da legislação, salários, benefícios, indenizações etc”, defende.

Em segundo lugar, Cafeo aponta a eficácia do teletrabalho. “As empresas estão percebendo que os funcionários não têm de marcar presença em um ambiente físico para dar resultado”, observa.

Por outro lado, ele reforça que alguns setores, como o comércio e a construção civil, não deixarão de exigir a presença dos colaboradores.

SIMBIOSE

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Bauru e Região, Walace Garroux Sampaio acredita, inclusive, que haverá uma simbiose entre o e-commerce e as lojas físicas.

Ainda de acordo com ele, por conta desta junção, alguns profissionais passarão a ser bastante requisitados, como aqueles das áreas de TI e Marketing Digital. “Não existirá um estabelecimento só com atendimento presencial e o comércio eletrônico também se tornará físico, como já acontece com a Amazon, nos EUA”, exemplifica.

A entidade, então, desenvolveu uma plataforma de compras em parceria com o Não Para Bauru. Lá, todas as empresas podem anunciar, sem qualquer custo, até cinco dos seus produtos. “Antes da crise, muitos estabelecimentos não tinham acesso a este meio eletrônico, por ser caro. Além de ajudá-los neste período, nós queremos inseri-los neste novo mundo”, revela.

PRECARIZAÇÃO

Formado em Ciências Sociais e Direto, bem como mestre e doutor em Ciência Política, Bruno Pasquarelli reconhece a tendência para o home office, o e-commerce, o delivery e o EaD, mas chama a atenção para a precarização do trabalho.

Tal condição já havia se implantado antes da crise econômica provocada pela pandemia. Entretanto, o pesquisador prevê o seu aumento considerável. “É a ideia da ‘uberização’ do trabalho: dedicar muitas horas diárias a determinado serviço e ganhar pouco”, explica.

Para ele, as profissões ligadas à área da saúde acabarão beneficiadas, porque o poder público e a iniciativa privada do mundo inteiro já perceberam as deficiências deste setor.

Questionado sobre o EaD, o educador pondera que as universidades que o implantaram antes da crise largaram na frente. “No entanto, não podemos desconsiderar que, no Brasil, nem todo mundo tem acesso à Internet ou aos aparelhos eletrônicos. Precisamos desenvolver políticas públicas para que toda a população receba tal respaldo”, finaliza.

Indústria 4.0 é ‘freada’ e só terá continuidade em longo prazo

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Bauru e Região, Edson Dias Bicalho, as fábricas manterão o trabalho presencial após a pandemia. Porém, a chamada 4.ª Revolução Industrial, que vinha sendo tão falada antes da crise gerada pelo coronavírus, só terá continuidade em longo prazo.

A Indústria 4.0 nada mais é do que o uso de robôs, integrados em sistemas ciberfísicos e responsáveis por uma transformação radical. Edson alega que as empresas brasileiras chegaram a embarcar nesta mudança, mas a atual crise econômica brecou os investimentos.

Ainda segundo ele, a automação industrial custa milhões. “Após a pandemia, as empresas estarão economicamente fragilizadas para tanto. Então, quando voltarem à normalidade, elas se limitarão a lutar pela sobrevivência”, justifica.

Conforme informações do presidente da entidade, os países da América Latina já registravam a menor taxa de transformação do mundo. Nesta região, a mão de obra abundante e barata se mostra mais vantajosa do que a automação propriamente dita.

Fonte: JCNet (por Cinthia Milanez)

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