
Mais de 280 mil trabalhadores químicos de SP deixarão de pagar IR com a nova lei
Por Sergio Luiz Leite, Serginho
A aprovação, por unanimidade, do Projeto de Lei 1.087/25 pela Câmara dos Deputados representa uma conquista histórica para a classe trabalhadora. O texto garante isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e reduz progressivamente a tributação até R$ 7.350, beneficiando cerca de 15,5 milhões de pessoas no país. Entre elas, mais de 280 mil trabalhadores nas indústrias químicas (adubos, fertilizantes, tintas, farmacêuticas, materiais plásticos, fabricação do álcool, dentre outras) no estado de São Paulo passarão a ficar isentos, aliviando de forma direta o orçamento das famílias. É um passo firme na direção da justiça tributária que há anos defendemos.
A vitória não foi apenas do governo: foi, antes de tudo, fruto da longa luta do movimento sindical e do povo nas ruas. A reivindicação de um sistema tributário justo e solidário é uma proposta antiga e histórica do movimento sindical, e, em 2022, essa bandeira foi reafirmada na Pauta da Classe Trabalhadora, construída na CONCLAT e entregue ainda naquele ano ao presidente Lula.
As mobilizações nacionais contra a PEC da Blindagem, em defesa da isenção do IR, da redução da jornada de trabalho e do fim da escala 6×1 criaram um ambiente de pressão que obrigou o Congresso a ouvir a maioria da população. Essa combinação de mobilização popular e negociação política mostrou que é possível, mesmo diante de um parlamento majoritariamente conservador, avançar em medidas concretas de distribuição de renda.
Para o setor químico, os números revelam o impacto direto da medida. De acordo com dados da RAIS 2024, apenas 31,2% dos trabalhadores químicos do estado de São Paulo (aproximadamente 134 mil) estavam isentos pela regra anterior. Com a ampliação do limite para R$ 5 mil, o contingente salta para 65,2%, o que significa que 145 mil novos trabalhadores deixam de pagar IR. Além disso, outros 59 mil trabalhadores terão alívio tributário devido à redução progressiva das alíquotas até R$ 7.350, elevando para 79,1% a proporção de toda a categoria diretamente beneficiada.
Alguns setores emblemáticos são os que mais sentirão o efeito imediato no bolso: na indústria de brinquedos e instrumentos musicais, 91% dos trabalhadores passam a ficar isentos; na indústria de materiais plásticos, a isenção chega a quase 80% dos vínculos; e nos reciclados plásticos, a marca ultrapassa os 90%. Até mesmo em setores de salários médios mais altos, como na indústria farmacêutica, mais de 36% passam a ficar isentos e mais da metade terá algum tipo de alívio tributário. É uma conquista que não só alivia o orçamento das famílias, mas também fortalece o mercado interno, estimula o consumo e dá fôlego à economia industrial.
A aprovação do projeto, porém, não encerra a luta. É preciso que o Senado confirme o texto e que o governo avance na atualização completa da tabela do imposto, que segue defasada em mais de 130% desde 1996, assim como na isenção da PLR, e na tributação dos lucros e dividendos dos grandes acionistas, que seguem intocados desde 1995. A ampliação da isenção é um passo importante, mas ainda insuficiente para corrigir as profundas distorções do sistema tributário brasileiro. Ao mesmo tempo, a luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários e pelo fim da escala 6×1 precisa ganhar força, pois são medidas fundamentais para melhorar as condições de vida e a saúde dos trabalhadores e para gerar novos postos de trabalho.
Quando a classe trabalhadora se organiza e ocupa as ruas, o Congresso escuta. A aprovação da isenção do IR foi um avanço concreto que mostra que é possível corrigir distorções históricas e abrir caminho para uma transição justa. O desafio agora é transformar medidas como essa em parte de uma estratégia mais ampla, capaz de fazer com que os ganhos concentrados pelo empresariado nas últimas décadas possam também ser revertidos em bem-estar coletivo. Essa é a direção de um país equilibrado e inclusivo, em que o crescimento econômico se traduz em melhores condições de vida, mais tempo livre e maior segurança social para quem produz a riqueza.
Sergio Luiz Leite, Serginho
Presidente da FEQUIMFAR e
Vice-preisdente da Força Sindical