Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha – 25 de julho, as ruas da capital paulista receberam a 3ª Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, que teve concentração na Praça Roosevelt, centro da cidade, desde as 17h. Às 19h40, mulheres cantando e tocando músicas de origem e com inspiração africana, carregando faixas pedindo garantia de direitos e o fim da violência saíram em caminhada pelas ruas centrais, até chegarem ao Largo do Paissandu por volta das 21h30, onde houve o encerramento da marcha com apresentação do Grupo de Jongo Filhos da Semente. Elas pediam o fim da violência e da negligência do Estado contra as mulheres negras.
Mulheres representantes de religiões de matriz africana vieram à frente do ato, vestindo roupas e saias brancas, usando água de cheiro para abrir os caminhos à prosperidade. Segundo a organização, essas mulheres são importante força de resistência nos terreiros entre mulheres negras e vieram para abençoar a marcha e lutar contra o racismo religioso. Ao longo do trajeto, os presentes marcharam ao som do grupo Ilú Oba de Min, que resgata e valoriza a cultura africana.
“Sempre fomos negras. Resgatar isso na marcha é dizer que temos orgulho de sermos negras, não há problema em ser negra, somos iguais. Não somos iguais perante o Estado, mas queremos e lutamos por isso”, disse Ana Paula Neres, pedagoga que estava no ato. “A marcha é necessária, é o nosso grito de independência, é a nossa voz diante do Estado. Nós lutamos e vamos cobrar do Estado uma postura diante das mulheres pretas”.
“Somos a base da pirâmide [social]. Só ficamos acima dos jovens negros e é justamente contra isso que nós viemos lutar. Nós queremos igualdade, nada mais que equidade”, disse, sobre as mulheres negras receberem menores salários entre mulheres brancas e homens negros e brancos. Ela acredita que o país precisa de políticas públicas que contemplem a igualdade racial e de gênero. “Mais mulheres na política, politicas de saúde pública para a população preta, emancipação periférica, políticas que alcancem a periferia. Esse seria um início para a solução dos problemas”, disse.
Responsabilidade do Estado
Uma das organizadoras da marcha, Andreia Alves, destacou que o Estado tem responsabilidade sobre muitas privações de direitos que as mulheres negras sofrem, como violência policial, encarceramento, genocídio da população negra, além de consequências para as mulheres negras dos retrocessos trazidos pela reforma trabalhista e da previdência. “Viemos reivindicar que o Estado pare de nos violentar”.
“Não é possível aceitarmos, por exemplo, que a expectativa de vida de uma mulher trans seja de 26 anos quando colocamos o recorte racial. Vinte e seis anos de idade é muito pouco. Estamos em média com 74 anos de estimativa de vida no Brasil”, lamentou Andreia. “Tem muito desmonte [de politicas], muita injustiça social, muito machismo e racismo, muita LGBTfobia. São muitas as bandeiras que envolvem as mulheres negras, especialmente porque nós estamos na base social da pirâmide. E tudo passa por nós”.
Origem da marcha
O coletivo Marcha das Mulheres Negras de São Paulo ajudou a construir a marcha que ocorreu em Brasília em 2015, levando 50 mil pessoas às ruas contra o racismo e a violência. Nos anos seguintes, houve marcha na cidade de São Paulo e, neste ano, o ato se repete na região central da capital.
“Reunir 50 mil mulheres em Brasília em 2015 nos deu um impulso para que voltássemos para nossos estados mais organizadas. A importância de se reunir, juntar as reivindicações e marchar é imensa, porque essa é uma maneira muito potente de ampliarmos a nossa voz”, disse Andreia.
Fonte: Agência Brasil