O movimento sindical e os desafios da juventude brasileira

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O ímpeto de transformação social característico da juventude resulta em uma pauta de luta, como não poderia deixar de ser, bastante abrangente. Individualmente, os jovens precisam se qualificar cada vez mais para adquirir condições de ingressar no mercado de trabalho, e, coletivamente assumem a linha de frente nas lutas por transporte público e educação de qualidade, ampliação de acesso público à tecnologia, por políticas de esporte e lazer, dentre outras.

No dia 12 de agosto se comemora o Dia Nacional da Juventude, decretado pela Lei nº 10.515 de 11 de julho de 2002. Entretanto, neste dia 12 de agosto de 2017, a juventude brasileira infelizmente pouco tem para comemorar.

Os dados da PNAD mostram que na década de 2000 a redução da participação dos jovens no mercado de trabalho não consistiu de produto exclusivo do envelhecimento demográfico, mas foi também causado pelo crescimento da renda média dos pais e pelo aumento da dedicação exclusiva aos estudos, o que contraria a hipótese que culpa a própria juventude, lhe atribuindo o slogan de “geração nem-nem”, que não estuda e não trabalha. Em geral, a juventude ingressante no mercado de trabalho visa a complementação da renda familiar para satisfação de suas demandas pessoais de consumo. No entanto, a partir de 2015, com a drástica inversão da taxa de desemprego entre adultos, ocorre uma queda abrupta da renda familiar que motivou os jovens a procurarem emprego, o que, por sua vez, elevou ainda mais a taxa de desemprego total.

Existem ainda outras condições objetivas que dificultam o acesso do movimento sindical aos jovens. Os censos e pesquisas demográficas demonstram como o processo de envelhecimento da população brasileira naturalmente vem impactando na oferta de mão de obra jovem, obrigando uma readequação do conceito amplo de juventude como faixa etária e fazendo com que hoje o movimento sindical entenda por jovem os trabalhadores de até 35 anos de idade. A pulverização dos jovens no setor de comércio e serviços, bem como a grande exigência pela qualidade dos postos de trabalho por parte da juventude esclarece conjuntamente o salto na taxa de rotatividade entre jovens.

Em 2015, enquanto a rotatividade no mercado de trabalho formal brasileiro por iniciativa exclusiva do empregador foi de 35%, a taxa de rotatividade dos jovens por iniciativa do empregador foi de 50%, percentual este que se eleva para 71% quando consideramos também as justas-causa e os pedidos de demissão. Diante da espantosa rotatividade dos jovens no mercado de trabalho, torna-se clara a importância de criação e manutenção de espaços para participação e formação sindical da juventude que transborde os limites da própria categoria profissional, preparando os jovens trabalhadores para a luta pelos direitos trabalhistas do movimento sindical como um todo.

Todavia, não são apenas os mencionados elementos objetivos que dificultam a participação do jovem no movimento sindical. Diante das novas tecnologias e da velocidade de informação das mídias sociais, a comunicação do movimento sindical com a juventude precisa ser repensada. O apelo gráfico e visual vinculado à informação de qualidade sobre direitos trabalhistas, sociais e sindicais, associado aos debates pautados pela juventude como as questões de gênero, sexualidade e entretenimento, se mostram mais capazes de criar um canal de acesso ao público jovem. Ademais, compete às próprias instituições sindicais derrubar barreiras internas e proporcionar um espaço de atuação para a juventude comprometida com a classe trabalhadora.

Os desafios colocados à juventude se ampliaram sobremaneira com as ameaças pautadas pelas reformas trabalhista e previdenciária. Os jovens serão ainda mais diretamente afetados pela terceirização irrestrita, pela retirada de direitos trabalhistas, assim como já têm por certa a impossibilidade de se aposentarem via previdência pública. A atual conjuntura brasileira impõe grande responsabilidade à juventude, que vê sua taxa de desemprego ser três vezes superior àquela da população mais velha e que observa a precarização e privatização do ensino público em todos os graus atingir níveis alarmantes.

O Dia Nacional da Juventude nos incita a reinterpretar a conjuntura política e econômica brasileira, reformulando nossa estratégia e agenda de lutas. Por um lado, na era das mídias sociais e da informação fluida, um dos maiores desafios do movimento sindical e da própria juventude organizada consiste em despertar o interesse dos jovens pelas mencionadas causas coletivas; por outro lado, a juventude interessada e combativa por vezes enfrenta barreiras à participação nas organizações já consolidadas. Seja por uma ou outra razão, o efetivo potencial de transformação social que resulta da interação entre sabedoria da experiência e combatividade dos jovens só poderá ser alcançado pelo estreitamento e fortalecimento desta relação.

Antonio Carlos Rodrigues Ferreira, diretor do STI Itatiba e
Aline Fernanda de Lima, diretora do STI Jaguariúna
Coordenadores do Departamento da Juventude, Criança de Adolescente da FEQUIMFAR

Daniel Ferrer,
Economista do DIEESE
Subseção FEQUIMFAR SNQ Força Sindical

Imagem: Reprodução.

 

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