Nota de Pesar: Alcy Nogueira

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É com profundo pesar que informamos que o companheiro Alcy Nogueira, ex-presidente da FEQUIMFAR e amigo estimado, faleceu ontem, dia 13 de maio, com 87 anos. Deixando um legado histórico de importantes lutas e conquistas junto ao movimento sindical e os trabalhadores do setor químico, Alcy é um exemplo para todos nós de conduta, perseverança e determinação.

Abaixo, narração de uma pequena parte de sua história em defesa da classe trabalhadora e sua contribuição junto a esta Federação:

Nos anos de Ditadura Militar, enquanto a Federação era chefiada por interventor escolhido pelo Governo, surgiam importantes lideranças sindicais na base, destacando-se, entre elas, Alcy Nogueira.

Nogueira foi eleito presidente da FEQUIMFAR, de forma democrática, em setembro de 1969, com apoio de mais de 20 Sindicatos filiados. Um presidente legítimo e oriundo da classe trabalhadora assumia o comando da Federação dos Químicos. Alcy Nogueira era ligado à empresa Fontoura.

Vale destacar que entre os anos de 1975 e 1976, Alcy Nogueira também presidiu o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), num momento de expansão da entidade, devido à necessidade de se compreender a política salarial imposta pelo Governo. Entre 1976 e 1979, Nogueira foi presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, também com importantes feitos em defesa dos trabalhadores.

No período da ditadura militar, o movimento sindical foi alvo preferencial da repressão. Enquanto presidia a Federação dos Químicos, os militares pediram a cassação do mandato de Alcy Nogueira, devido sua atuação junto ao DIEESE. Alcy se afastou da presidência do DIEESE, mas, passados alguns meses, retomou a liderança da entidade, numa clara demonstração de contrariedade ao regime militar.

Sob a direção de Alcy Nogueira, as categorias de trabalhadores representadas pela FEQUIMFAR alcançaram importantes conquistas, como em 1971, quando foi aprovada a Lei que criou a estabilidade para a empregada gestante de 60 dias, após terminada a Licença Maternidade. Esta foi uma vitória liderada pela Federação e seus Sindicatos filiados na luta por melhores condições de trabalho para as mulheres, lembrando que os anos eram de chumbo. Na década seguinte, diante de intensas lutas e campanhas pela redução da Jornada de Trabalho sem perdas salariais, os segmentos químicos conquistaram importante redução de jornada de 48 para 44 horas, num processo que foi estabelecido em Convenção Coletiva de Trabalho.

Ainda nos anos 1970, o Boletim Informativo da FEQUIMFAR, sob o comando de Nogueira, chegou a criticar diversas vezes o governo militar, chamando os números oficiais da inflação de mentirosos e publicando índices do Custo de Vista do DIEESE para comprovar que a política salarial estava errada, por repor valores irreais e irrisórios para inflação. Também são promovidos diversos cursos, seminários, congressos, encontros, eventos, além de outras atividades, para combater os altos índices de mortes e acidentes de trabalho, ocorridos na Indústria Brasileira. Alcy apoia a criação do Centro de Pesquisas e Orientação de Segurança e Medicina do Trabalho – CPOSMT, que desenvolve um grande Banco de Dados com informações sobre o setor, cujo nome ficou conhecido como “Direito do Saber”. Eram cotidianas as atividades em torno da alfabetização de trabalhadores e cursos de formação sindical e profissional.

Em 1978, cansado de ver o constante aumento do custo de vida, num comício de primeiro de maio, com a presença de mais de 80 mil trabalhadores no CERET, no Bairro do Tatuapé, São Paulo, o presidente da Federação, Alcy Nogueira discursa fazendo pesadas críticas ao governo militar, ao arrocho salarial e pedindo o retorno da Democracia. O Presidente da República, Ernesto Geisel que também estava presente no mesmo palanque, se irrita e diz a famosa frase “Não podemos ir a galope!”, em confronto ao movimento sindical.

Já encerrando a sua gestão na presidência da FEQUMFAR, Alcy Nogueira e demais diretores da FEQUIMFAR puderam participar ativamente do 1º CONCLAT (Conferência Nacional das Classes trabalhadoras), que definiu uma agenda de luta pelo fim da redução de benefícios da Previdência Social e o direito à moradia, contribuindo também pela luta pela liberdade e autonomia sindicais e liberdades democráticas.

A diretoria da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas no Estado de São Paulo se solidariza com a dor de familiares e amigos nesse difícil momento, a quem externamos o nosso sincero pesar.

Sergio Luiz Leite, Serginho – presidente
Edson Dias Bicalho – secretário geral
Jurandir Pedro de Souza – diretor financeiro

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